FRIEZE New York
05.05.2021
09.05.2021

Um filme 16 mm a preto e branco com um plano fixo nos vestígios de uma muralha quatrocentista, captado no interior de um centro comercial em Lisboa, é projectado na viseira de um capacete de astronauta em bronze. Uma réplica daqueles que foram usados pela tripulação da missão Apollo 11, evocando as primeiras palavras de Armstrong ao aterrar na face visível da Lua. Aqui, se este fascínio pela Lua, como o corpo celeste mais próximo do nosso desejo cósmico de conquista, é equiparável à nostalgia da ruína – que refletida nos espelhos do edifício moderno concilia esses dois tempos – esta instalação também é um gesto de continuidade. Como acontece em trabalhos anteriores, é por via da manipulação do tempo, justaposição de histórias e ficções, que se transformam sentidos e lançam, como sementes, estas conexões intercomunicantes, anacrónicas. E, nesse sentido, apesar do capacete negro corresponder a um objecto contemporâneo, produzido industrialmente, é replicado sem recurso a meios mecânicos ou digitais, anunciando um precedente nas opções formais de Pavão: a manualidade da escultura . Engraçado pensar nestas técnicas ancestrais – como a fundição em bronze, já empregue pelos egípcios – e de materiais(…), que associamos ao fabrico dos primeiros utensílios utilizados pelo ser humano que apontam, neste contexto, a uma outra camada a este possível caminho, de volta ao futuro.

Carolina Trigueiros

 

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